sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A EVOLUÇÃO DA MEDICINA

A ciência médica vem evoluindo a passos fenomenalmente largos. Exames, medicamentos, aparelhagem, próteses, transplantes. O incremento tecnológico nestes últimos anos foi fenomenal. Mas todos sentem que algo esta faltando. Sobra tecnologia e falta humanização. Falta carinho. Falta conversa.
Dor de cabeça vira uma tomografia. Dor nas costas é igual a uma ressonância. Obesidade nada mais é que um estômago a ser reduzido. O ser humano é visto de uma forma fragmentada. É a visão cartesiana do individuo.
Cartesiana vem de René Descartes, que acreditava que o universo era como um relógio, que poderia ter seu todo conhecido pela análise das partes. É o contrário da visão holística, de HOLOS, que significa todo, mas um TODO integrado.
Paralelamente à evolução tecnológica da medicina cresceu a procura pelas chamadas terapias alternativas, sejam como especialidades médicas, sejam como outras profissões da área de saúde. Esta busca vem aumentando de uma forma impressionante. Médicos e pacientes se dizem desiludidos com as terapias convencionais e partem para procurar outras formas de uso das ciências da saúde.
Assim, enquanto a tecnologia desumanizava (e ainda o faz) a medicina, a medicina alternativa era (e ainda é) o grande baluarte da humanização. Mas, qual é o melhor: a medicina tecnicista ou a alternativa? Antes de responder vamos observar duas coisas. Primeiro: não é a tecnologia que desumaniza. É seu uso inadequado. Seja exagerado ou mercantilista. Segundo: não foi a medicina que se desumanizou. Foi a humanidade. Foi o ser humano. Mas, voltemos à pergunta: qual é o melhor?
Lembro que quando fiz especialização em homeopatia (no distante ano de 1986), havia uma clara dicotomia: quem usava remédio homeopático não poderia usar antibiótico, não podia fazer RX, muito menos tomar vacina. Eu nunca concordei com esta postura (ver: http://drwerneck.blogspot.com/2010/01/afinal-homeopatia-funciona.html). Ou você usava uma forma de tratamento ou outra: “se você for usar homeopatia não precisa voltar a me procurar” diziam alguns médicos.
Passado o tempo convencionou-se mudar o termo terapia alternativa para terapia COMPLEMENTAR. Ou seja, o que era opcional passou a ser um complemento terapêutico. Mas, só mudou o nome. Ainda existe certo preconceito, de ambas as partes.
Agora, surge uma evolução. Vem crescendo o conceito de MEDICINA INTEGRATIVA. O que é isto? Nada mais é que a INTEGRAÇÃO (claro) entre as terapias convencionais e as complementares. Esta integração deve ser coordenada por um profissional que tenha formação e visão ampla, para fazer o que melhor puder ser feito para seu cliente. Exemplificando: a dor nas costas que falei acima. Pode necessitar da ressonância (nada contra). Pode ser cirúrgica (com indicações muito restritas). Pode melhorar com RPG, osteopatia, acupuntura, meditação e por aí afora.
Esta é a grande evolução da medicina do título acima. A integração das diversas formas de “medicina”. Ou melhor, das diversas formas de “assistência à saúde”. Ou seja: a compreensão que o ser humano é mais que seu corpo: é corpo, mente, alma e emoções.
PS.: Como curiosidade: no site http://nccam.nih.gov/ temos acesso a diversas informações sobre o que falei acima. O site é do NATIONAL CENTER FOR COMPLEMENTARY AND ALTERNATIVE MEDICINE do NATIONAL INSTITUTE OF HEALTHY do governo americano.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

OS ERROS NO PLANEJAMENTO EM SAÚDE I

Não importa em quanto são aumentados os recursos financeiros alocados para o atendimento às necessidades de assistência médica. A cada dia são insuficientes para atender às “necessidades”. O aumento destas necessidades é devido a diversos fatores, alguns inevitáveis (envelhecimento da população é um deles), outros claramente devidos a planejamento inadequado. Este planejamento inadequado está presente seja na área privada, seja na pública.
Na área pública todos já tivemos a oportunidade de evidenciar a criação de serviços decorrente de uma decisão meramente politiqueira. É o caso do prefeito, amigo do governador, que queria criar um serviço de mamografia em uma cidade de pequeno porte, pois não queria que os munícipes se deslocassem a um centro maior, cujo prefeito era de um partido rival. Ou o caso do vereador que exigia do prefeito a criação de um serviço de alta complexidade, tipo UTI. Em ambos os casos (reais) não havia demanda que justificasse a criação destes serviços.
Alguns iriam dizer que meu raciocínio estaria voltado apenas para o aspecto financeiro. ESTÁ! Este deve o raciocínio ou iremos ter uma UTI em cada esquina. Um cardiologista em cada porta. Um pediatra dentro de cada casa.
No caso dos serviços privados existe um problema semelhante, porém com outro foco: resultado financeiro! Explicando: na saúde privada os investidores desejam o que todo investidor deseja: LUCRO. Nada errado, em minha opinião. Só existe um problema: quem paga a conta? No final sempre quem paga a conta será a sociedade.
Mas quais seriam os erros? O erro principal é de avaliação da demanda. A maneira certa de se avaliar a necessidade de inclusão de novas tecnologias ou de novos serviços deveria ser baseada em dois aspectos: qual a demanda reprimida e qual seu custo/efetividade.
Como acontece hoje: tecnologias recém-implantadas em países do primeiro mundo são incorporadas por nós sem as avaliações acima. Quem implanta ou quem investe nestas tecnologias tem uma conta para pagar (em geral em dólar) e um lucro em vista. Para se atender a esta “demanda financeira”, muitas vezes cria-se uma demanda pelos procedimentos que irão atender os interesses dos investidores.
Mas que história é esta de criar demanda? Para explicar o que quero dizer pego emprestado parte do artigo “GASTOS EM SAÚDE: OS FATORES QUE AGEM NA DEMANDA E NA OFERTA DOS SERVIÇOS DE SAÚDE” publicado em “Saúde e Sociedade 9(1/2):127-150, 2000”

“A especialização dos médicos aumentou nos últimos anos. Esta maior especialização determina uma modificação na produção médica. Os atos médicos mais banais, consultas e visitas, diminuem comparativamente aos atos mais técnicos, de especialidades, cirúrgicos ou radiológicos. Este aumento pode ser justificado, mas é importante que os recursos sejam mais racionalmente usados. É clássico dizer-se em economia da saúde que a oferta cria sua própria demanda, a conhecida "Lei de Roemer". O surgimento de novos leitos determina a entrada no hospital de doentes que anteriormente seriam tratados em outras estruturas de serviços de saúde, consultórios, por exemplo.”

Ressalto que não sou contra a evolução das tecnologias em saúde. Não sou contra exames. Não sou contra lucro. Apenas trago à discussão um assunto que interessa a todos. A fim de ilustrar a importância desta discussão recordo artigo publicado na Gazeta Mercantil, há uns sete anos. No artigo, o autor, cujo nome não me recordo, dizia que, caso os custos com a assistência à doença continuassem crescendo no mesmo ritmo “em quinze anos TODOS os sistemas de saúde do MUNDO, públicos e privados, irão falir. Para tal não acontecer será necessário o envolvimento de todos: financiadores (Estado ou planos de saúde), prestadores de serviços de saúde (médicos e instituições) e clientes, principalmente as empresas”. Segundo o autor a responsabilidade seria de todos.
Bom! Se a previsão estiver certa, para quinze anos, FALTAM APENAS OITO!

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

PONTUALIDADE: DEFEITO OU QUALIDADE RARA

A festa estava marcada para 21 horas. Alguém me perguntou que horas eu pretendia chegar. Respondi: “no compromisso marcado para 21? Pretendo chegar às 21 em ponto”. A interlocutora retrucou que é deselegante chegar no horário!? Disse que quem convida, já convida esperando um atraso de pelo menos meia hora.
Meu avô chegava meia hora me todos seus compromissos. Meu pai saia de casa bem antes do horário, alegando possibilidade de algum imprevisto. Eu tenho o péssimo hábito de chegar EM PONTO. Do tempo da Aeronáutica carrego a frase “oito horas não é oito e um nem um para as oito”.
Será que nunca atraso? Eventualmente sim, mas por imprevistos realmente imprevisíveis. Explico: trânsito em cidades grandes não é imprevisto. Acidente, que fecha a Dutra, é imprevisto (ou não?). Sempre saio e chego aos meus compromissos em tempo. Existem situações nas quais atraso. Nestes casos AVISO E EXPLICO a quem de direito.
E quem sempre atrasa? Existem explicações diversas. As duas principais: desorganização ou demonstração de autoridade. Existe outro aspecto que é cultural e folclórico, que é a sala de espera de consultórios. Reclamações diversas sobre o assunto existem. Como resolver o problema?
Antes que pensem que só médico atrasa fica aqui uma queixa pessoal contra diversas outras profissões: ELETRICISTAS, ENCANADORES, ENGENHEIROS. Tem um serviço em casa que o profissional marcou umas cinco vezes e NÃO APARECECEU. Na última o próprio marcou, garantiu, não deu satisfação. Ah! Não devo nada para ele! Bom, voltemos ao assunto principal.
Inicialmente deixemos claros alguns problemas. Primeiro: o número de clientes que atrasam ou marcam e não aparecem nem avisam é enorme. Em um levantamento feito em nossa Unimed, o número de faltas sem aviso passa de 25%. Ou seja, de cada dez consultas agendadas, QUATRO FALTAM. Se mudar o clima então, faltarão mais de 40% (aconteceu comigo esta semana). Esta atitude prejudica o profissional e outros clientes. Como consequência alguns profissionais fazem “overbooking”: marcam mais do que a agenda permitiria.
Outro problema: COMUNICAÇÃO. Deveria haver uma clara combinação entre profissional e cliente, tendo a secretária como elo. É muito comum a secretaria dizer que o “médico atrasa mesmo”, complementando com um “todo mundo sabe”. Já ouvi este comentário. Como resolver?
Um profissional de saúde, mais especificamente, médico, pode agendar consultas de três formas diferentes: hora marcada, ordem de chegada e uma mescla destas duas. Hora marcada é hora marcada! Consulta agendada para 15 horas, o profissional deveria ter se planejado para atender esta consulta às 15 horas! O que não pode é marcar para as 15, o profissional chegar às 16, já tendo gente esperando desde às 14. NO CASO DE HORA MARCADA.
Por ordem de chegada. Exemplo: a partir das 14 o profissional estará á disposição de quem chegar. Conforme for chegando entra em uma fila, que pode ter um número variável de clientes.
A terceira forma: uma mescla das duas anteriores. O profissional sabe que em uma hora pode atender três clientes. Média de vinte minutos cada atendimento. Ele marca para as 14 horas quatro clientes. O primeiro a chegar será o primeiro a ser atendido. Mais quatro para as 15 e por aí afora. Se for fazer overbooking, marcará cinco, pois se faltar um (chance estatística enorme de ocorrer) não ficará ocioso.
Em todas as três formas há que haver comunicação e organização. O cliente tem o direito de saber qual é a forma de marcação de consulta. O profissional (a secretária é extensão do profissional) tem o dever de informar corretamente. A relação entre profissional e cliente é uma relação tacitamente contratual, mesmo não documentada. O profissional responde ao Código de Defesa do Consumidor.
Quer dizer que o médico (meu caso) não pode atrasar? Pode, em algumas situações. Eventualmente pode haver uma urgência que ocupa o médico. EVENTUALMENTE. O cliente deve ser avisado e decidir o que fazer.
Outro fator de imprevisibilidade é o tempo de cada consulta. As consultas são agendadas para uma duração média. Quinze, vinte, trinta minutos. Depende da especialidade e da experiência do profissional. Estas podem demorar menos ou mais que o tempo previsto. Uma consulta programada para durar meia hora pode demorar uma, por exemplo. Ou menos que meia. Daí poder haver certo atraso. Qual o tolerável? Não há critério. Depende de cada profissão. Eu, COMO CLIENTE, acho que mais que meia hora é MUITO.
Na verdade o que falta em nossos consultórios são DUAS coisas: ORGANIZAÇÃO e COMUNICAÇÃO.
PS.: Veja o post O MÉDICO QUE ESPERA em meu Blog no dia 14 de julho de 2011: http://drwerneck.blogspot.com/2011_07_01_archive.html